Beleza
Às nossas queridas mães
“Ó terras de Portugal
Ó terras onde eu nasci
Por muito que goste delas
Inda gosto mais de ti.”
Neste poema “À minha querida mamã”, Fernando Pessoa, curiosamente grande amigo de Almada Negreiros, autor do quadro explorado neste texto, expressa bem este amor que os filhos (também me refiro às filhas) têm pelas suas mães, tão grande e tão natural que é maior do que pela própria pátria. O poeta nas suas conhecidas obras expressa bem o seu amor pela pátria portuguesa, mas nem este supera o amor que tem pela sua mãe.
Não sei se os dois amigos falaram sobre este poema, mas posso dizer que Almada Negreiros conseguiu “encarnar” muito bem as palavras de Pessoa nesta pintura.
É muito interessante que quando olhei para a obra pela primeira vez, não consegui perceber bem onde se situavam os membros corporais da mãe e do filho, parecendo que estes se fundiam um no outro. Penso que é esse o objetivo do autor, expressar a unidade de mãe e filho, em que o filho se dirige à mãe, pois reconhece-a tentando abraçar o seu rosto, expressando o espanto ao ver a mãe, como alguém que está apaixonado e se admira quando vê a pessoa amada. Mas a mãe, que o amou primeiro, que o acolhe nos seus braços e olha para ele com ternura, tem maior amor que o filho. Um amor do mais puro, expresso pela veste branca, e um amor do mais grandioso, da maior realeza, expresso pelo véu dourado. O pintor vai mais longe, afirmando que esta mesma relação está no centro da natureza, sendo que a figura se situa no centro da união entre o céu (azul) e a terra (verde).
Este quadro é de 1934, e é mais uma das muitas obras que nos falam sobre a maternidade. É bonito quando observamos a arte do passado, se entrarmos verdadeiramente na aventura de olharmos para o corpo e alma do artista, que se expressam na obra de arte realizada, muitas vezes encontraremos aquilo que de mais profundo caracteriza o Homem. E de facto, a maternidade é dos mistérios mais profundos e naturais da Humanidade.
Num mundo em que muitas vezes a maternidade é vista como um peso ou uma responsabilidade demasiado grande, que gera medo e desconforto, Almada afirma que esta é precisamente o nosso primeiro sustento, em que a mãe nos sustenta nas suas mãos que dão a vida por nós. E um mundo que não ama as mães é um mundo sem amor, é um mundo desnaturado.
Francisco Carmo Pedro
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