Beleza

A Esperança é a última a morrer

Nesta bela pintura “Arrufos” de Belmiro de Almeida estão bem expressas duas personagens da nossa sociedade atual. É muito interessante como, apesar de ser uma pintura que ilustra duas personagens de um estrato socioeconómico elevado do século XIX, às quais hoje chamaríamos, provavelmente, antiquadas, desatualizadas, a forma como as pessoas lidam com as contrariedades da vida continua a ser semelhante. E parece-me que a contrariedade é precisamente a situação presente no quadro (tons escuros, personagens tristes, flores caídas no chão).

A figura feminina está numa profunda melancolia, que quer esconder e não partilhar. Sente-se derrotada pela tribulação que surgiu na vida, sente-se abandonada e não quer aceitar que está a passar por isto. Esta personagem representa aquelas pessoas que à vinda da tempestade escondem-se, isolam-se e não aceitam a contrariedade na sua vida. Pensam que pura e simplesmente não há solução, que têm de sofrer sozinhas e não podem mostrar a sua fragilidade a ninguém. 

A figura masculina está triste, mas já aceitou a situação. Contudo, não parece encontrar uma saída, está resignado, conformado, pois acredita que estas situações são parte da sua rotina como fumar o seu habitual cigarro. Estas são as pessoas que pensam que a vida é triste e não encontram um sentido na contrariedade, que esta apenas faz parte de uma rotina onde não encontram felicidade e alegria para viver. E por vezes tentam procurar a saída da contrariedade em prazeres ou vícios que não saciam. Olham para a vida como um tempo volátil onde terão momentos de euforia e tristeza. Não há um equilíbrio.

Todavia, eu falei apenas de duas personagens deste quadro, mas há uma terceira. A terceira personagem é a luz. A luz é a personagem que vem tentar trazer alento, vem trazer Esperança a estas duas pessoas. O problema é que, como uma está escondida da luz e a outra está a olhar para a rotina, ou está distraída com prazeres, não veem a luz. É preciso sempre olhar para a luz. É preciso ter Esperança.

Eu encontro muita luz no casal que entrevistámos para esta edição. 

Aos olhos de muitos nem sequer deveriam ter casado. Porquê casar com alguém que me poderá conceder um filho com uma deficiência? Isso não irá prejudicar a minha vida? Onde é que fica a minha qualidade de vida?  

Aos olhos de muitos a vida deles deveria ser um inferno. Passar a vida num hospital? Ter de sair de férias para ir cuidar do filho? Estar constantemente com o coração nas mãos porque pode acontecer alguma coisa à criança a qualquer momento?

A verdade é que este casal não está a olhar para si, paras as suas expectativas, para o seu comodismo e qualidade de vida, para as suas tristezas e dificuldades, mas podemos dizer que tem uma rotina de olhar para a luz. Luz de Esperança e sentido para a vida. E esta luz faz com que olhem para a vida deste filho como um dom, como uma bênção, como uma oportunidade que lhes é dada para crescerem como melhores pessoas. E é muito bonito ver como olham para a sua vida familiar com naturalidade e alegria.

Francisco Carmo Pedro

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